echoes

and

excavations

(2025)

 

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Fotografia | Desenho

Video | Som

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Os sons, processados e recombinados, revelam desde sussurros geológicos até reverberações de gestos ancestrais, criando uma paisagem sonora que dialoga com a espacialidade labiríntica do local. Aqui, nuances sonoras não apenas mapeiam a topografia física, mas também revelam camadas simbólicas: vozes silenciadas, rituais esquecidos e o eco de corpos que outrora habitaram essas fendas entre o sagrado e o mundano. A obra propõe, assim, uma escavação sonora, na qual a acústica das cavernas se torna uma metáfora para a própria memória – porosa, fragmentada e eternamente ressoante com o que um dia foi vivido.

 

echoes and excavations | 2025

 

Gravação de campo nas cavernas de

Uplistsikhe, Geórgia

 

 

"Ecos e Escavações" transforma a geografia sonora do complexo de cavernas de Uplistsikhe – um sítio arqueológico estratificado por milênios de habitação humana – em uma cartografia auditiva da memória. Por meio de gravações capturadas em suas cavidades, ravinas e câmaras subterrâneas, a peça explora as modulações acústicas geradas pela arquitetura irregular das formações rochosas, onde cada ressonância carrega traços de temporalidades distintas.

 

 

echoes and excavations | 2025

 

Gravações amplificando o sussurro do vento através de buracos excavados. Esses orifícios tinham funções nos diversos momentos históricos de ocupação.

 

 

 

 

 

echoes and excavations | 2025

 

Notas de campo e esboços

 

 

 

 

Nas paisagens esculpidas pelo tempo de Uplistsikhe, uma antiga cidade escavada em rocha vulcânica na Geórgia, as escavações humanas transcendem a mera sobrevivência ou funcionalidade. Cada cavidade, corredor sinuoso e altar primitivo carrega em suas formas côncavas não apenas as marcas de ferramentas ancestrais, mas também uma geografia íntima de histórias silenciadas. Este trabalho propõe uma imersão sensorial nesses vazios lapidados, onde depressões na rocha – algumas arredondadas como conchas, outras alongadas como cicatrizes – tornam-se receptáculos de ressonâncias invisíveis. Ao investigar a materialidade dessas estruturas, pergunta-se: que ecos, tanto sonoros quanto simbólicos, podem emergir de espaços que outrora abrigaram rituais, conversas e vidas cotidianas esquecidas? As próprias rochas, testemunhas silenciosas de milênios, transformam-se aqui em membranas entre o passado e o presente, convidando-nos a ouvir o que a história não registrou.

 

A série Ecos e Escavações se desdobra em fotografias que capturam a textura áspera de cavidades, vídeos que exploram a dança da luz em superfícies irregulares, desenhos que mapeiam a topografia da ausência e gravações sonoras que amplificam o sussurro do vento através de rachaduras e câmaras vazias. Cada meio artístico atua como um dispositivo de tradução, convertendo a quietude da pedra em narrativas fluidas. As formações côncavas – ora assemelhando-se a órbitas ocas, ora a nichos de contemplação – são reinterpretadas como espaços de ressonância onde o silêncio se torna matéria-prima para a imaginação acústica. Ao questionar a relação entre plenitude e vazio, som e memória, o projeto não se limita a documentar um sítio arqueológico, mas resgata a escavação como um ato poético: cavar é também desenterrar fantasmas, permitindo que ecos de outros tempos reinventem seu lugar no agora.

 

echoes and excavations | 2025

 

Escavações antigas em rocha vulcânica. Padrões diferentes conferem uma ressonância particular, além de uma estética visual única.

 

 

 

 

echoes and excavations | 2025

 

Antiga caverna escavada na rocha, conhecida como Teatro. Provavelmente era um templo do século I ou II d.C., onde peças de mistério religioso podem ter sido encenadas.